sábado, 20 de fevereiro de 2010

 
SEXUALIDADE COMO UMA CONSTRUÇÃO CULTURAL
Falar sobre sexo ainda é tabu hoje em dia! Em plena era da informatização, onde é possível ter-se acesso a todo e qualquer tipo de informação, pessoas e grupos de pessoas ainda insistem em permanecer na total ignorância, no tempo das cavernas.
Ainda são comuns algumas “crenças” tais como:
- filhos homens devem ser criados soltos e mulheres, guardadas,
- homens têm necessidades orgânicas, portanto precisam mais de sexo do que mulheres,
- mulheres precisam de homens para lhes dar segurança/proteção,
- mulheres “normais”, têm instinto materno, têm cuidados, são femininas e passivas,
- homens “normais” são sexualmente muito ativos e muito machos, buscam reproduzir e deixar seus genes espalhados pela Terra,
- masturbação causa impotência,
- mulheres são fracas e emotivas,
- homens são fortes e racionais,
- com a chegada da menopausa cessa o desejo sexual,
- blá blá blá
Aquelas “crenças” tão comuns, na verdade, são verdadeiros equívocos sob o ponto de vista da reflexão consciente. O momento é para propor discussões sobre a consciencia da sexualidade como parte da construção cultural de grupos de humanos, levando-se em consideração ambiente social, religião, cultura particular etc.
Tratar a sexualidade de maneira não responsável é retroceder ou desviar deliberadamente o olhar, colocando uma cortina de fumaça diante da realidade, que está aí, precisando urgentemente ser focada.
A sexualidade é um fenômeno que faz parte da vida de todas as pessoas, um evento universal e, ao mesmo tempo, singular a cada indivíduo. Porém a construção da sexualidade é um processo extremamente complexo, que envolve, ao mesmo tempo, aspectos individuais, sociais, psíquicos e culturais.
Sendo assim, não existe um tempo certo para iniciação sexual. Tudo deve acontecer naturalmente, no tempo certo para cada um porque cada ser é único e com características e necessidades particulares.
Eu discordo completamente daqueles que insistem em levar seus filhos homens, assim que completam 13 ou 14 anos, aos chamados “puteiros”. Na maioria dos casos, estas crianças, o que são, não estão ainda preparados para aquela experiência e depois levam consigo para sempre tal experiência, nem sempre agradável, idéia equivocada sobre sexo, amor etc. Conheço muitos casos relatados que ilustram tal disparate e, que levados até a idade adulta, as conseqüências da necessidade, que era muito mais do pai do rebento, de “apresentá-lo”, “iniciá-lo” no mundo irresponsável dos homens machos tacanhos do que do rebento ele mesmo.
Aliás, um grande número de mulheres (até os dias atuais) reclamam sobre seus companheiros, da falta de algo que eles não sabem lhes proporcionar, porque eles nunca se deram a oportunidade de vivenciar, uma relação natural, no tempo do seu tempo certo. O resultado, todas nós que somos mulheres sabemos no que leva.
Infelizmente, é comum encontrarmos a concepção de sexualidade reduzida a genitalidade, ao ato sexual, reprodução, como componente biológico relativo à necessidade orgânica, que tende a classificá-la e normatizá-la, que tende a denominá-la de "normal" ou "anormal”.
Afirmações do tipo: “homem tem que ser sempre ativo, senão é impotente ou viado”, “mulher tem que servir ao homem” etc só reforçam a total insistência na desinformação, ignorância.
A concepção de que a relação sexual seja "necessidade orgânica" para os homens e uma "obrigação" para as mulheres é ABSURDA e não leva em conta características e particularidades inerentes a cada pessoa, desrespeitando necessidades pessoais pela imposição ‘tacanha” sobre relações e relacionamentos. Tal comportamento pode ser compreendido num tempo em que as mulheres eram “treinadas” para eternas ‘amélias’ e a infidelidade masculina justificada pois partia-se da idéia de que, como a mulher casada era um “ente decente” e o homem tinha "necessidade orgânica" de relação sexual, então ele deveria ser "atendido". Daí, fica fácil entender de onde surgem as afirmações tidas como verdades absolutas que rotulam pessoas, que não considera as diferenças, as peculiaridades, ou seja a diversidade cultural e características particulares, dando espaço a todo tipo de preconceito e discriminações.
Na verdade, é preciso que se adote uma nova ótica sobre a sexualidade humana, ou seja, uma mudança de paradigma para que sejam levadas em conta as mudanças no tempo e espaço. Importante da mesma forma, é o exercício da cidadania, do cidadão que conhece seus deveres e direitos. É preciso que cada cidadão saiba que tudo que induza ou incite a discriminação e preconceito é crime. É preciso que aqueles que se julgam imunes ou ignoram leis, saibam que existem LEIS.
É importante que haja uma aprendizagem sexual que tenha como parceiros/agentes os pais, em primeiro lugar, a escola, como também o aprendizado informal, ou seja, a conversa com as amigas, (conversas íntimas, particulares ou em turma), favorecendo o amadurecimento, a mudança de comportamento e o esclarecimento dos próprios valores.
Não é mais concebível que nos dias de hoje não haja diálogos, conversas sobre sexo com os pais. Que os pais ainda orientem seus filhos na base de “alertas” ou "proibições", por meio de repressão, dando-se, assim, o controle social e cultural, tão oportuno para um sistema político que deseja o controle e alienação de pessoas.
Por sua vez, a escola, como agência educativa, não pode restringir a informação a somente sobre as partes do corpo humano em pedaços. Ou falar sobre menstruação e gravidez soltos o ar, apenas lembrando sobre os “perigos” do sexo. É preciso que os professores, sejam devidamente preparados e treinados para que não mais nossos filhos sejam obrigados a ouvir bobagens do tipo: “Eu comi uma melancia”, resposta de uma professora de primeiro ano do ensino fundamental à pergunta da aluna, que curiosa, queria saber porque sua barriga crescera. Isso mostra não só rigoroso preconceito nessa área como total despreparo.
Outra situação inconcebível é a posição das religiões oficiais, principalmente da Católica, que insiste em sair de seu contexto para o de agente educador sexual, disseminando informações equivocadas, causando inclusive conflitos, quanto ao não uso de anticoncepcionais e de que o homossexualismo seja uma anormalidade orgânica, não opção sexual. Ou associar o uso de DIU e “camisinha” a relação sexual promíscua. É um absurdo pois trata-se de um assunto de Saúde Pública.
A Igreja, como instituição religiosa, cumpriu seu papel conservador dos valores sociais, por intermédio da impregnação do medo religioso, do pecado. Ela mantém a vergonha ligada a tudo que se relacione a sexo, instituindo, dessa forma, o controle da sexualidade feminina até os dias atuais.
Mulheres reclamam (até os dias atuais!) de falta de prazer, erroneamente, tidas como frígidas. Não conhecem seus próprios corpos pois tocá-los, reconhecê-los é “pecado” ou “feio”.

Há um percentual ainda bastante grande de mulheres que relatam nunca terem tido um orgasmo em suas vidas.
É de suma importância entendemos que cada indivíduo possui sua própria visão de mundo, portanto é salutar promover um olhar dialético em relação ao nosso agir/ser.
É preciso que haja uma mudança urgente. Cada vez precisamos contar com cada cidadão, pois sabemos que não podemos esperar por soluções vindas de quem, supostamente, teria condições de sanar questões urgentes.
A questão é séria, pois nos deparamos com barreiras culturais e históricas, verdadeiros entraves capazes de reduzir a visão que deveria ser ampla tornando-a míope, em nome de um bem comum.
"Tacanhos" que insistem no retrocesso, se toquem (no sentido figurado e metafórico)! rs Viva a diversidade e o respeito pelo outro.

Comentários:
Vou aproveitar alguns trechos do seu texto para minha aula de sexualidade e matemática com meus aluninhos...
Gostei bastante... aliás você é excepcional em tudo o que faz... parabéns sempre...

Beijos
 
Maravilha, amigalinda, adorei. Indicarei nas minhas páginas, viu? Aguarde.
Beijabrações
Luiz Alberto Machado
Escritor, compositor musical e radialista
www.luizalbertomachado.com.br
http://twitter.com/lalbertomachado
 
Meus Queridos, Eduardo e Luiz Alberto!

Fiquei muito feliz em tê-los aqui! Vocês é que são Mil!
Beijos.
 
Minha querida Maria Syla, esta é minha primeira visita ao seu novo "local", fuxiquei um pouco e gostei do que li, só faria uma única e breve observação, os textos estão um tanto loooooooooooooongos, de minha parte constatei que os menores foram devorados com rapidez e interesse!
Boa sorte, sucesso e alegrias sempre.
 
Gostei bastante, concordo e assino embaixo!
 

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